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A Incumbência dos “Outros”

Os Jovens e a Vida Política

Vivemos sob um paradigma em que a acção política dita mais aspectos do quotidiano do que aquilo que nos é possível imaginar. É, certamente, inconscientes desta evidência que muitos cidadãos continuam a viver alienados da vida política da sua cidade ou até mesmo do seu país.

No entanto, a maior problemática não será o comportamento de muitos adultos por si mas, acima de tudo, a mensagem que esta atitude transmite aos jovens - crescer na ilusão de que a política é incumbência “dos outros” e de que não depende de cada um de nós ter uma opinião formada e uma atitude interventiva. Esta é, sem sombra de dúvida, a maior ameaça a um Portugal mais dinâmico no futuro.

Uma juventude desligada dos valores da democracia

A tendência não se revela animadora: segundo o estudo da Universidade Católica intitulado “Os Jovens e a Política”, que data de Janeiro de 2008, os jovens portugueses revelam uma tendência para se desligar da vida política, menosprezando o respectivo valor.

De facto, quando indagados acerca da importância de diversos aspectos nas suas vidas, como a família, os amigos, os tempos livres, o voluntariado e, claro, a política, os cidadãos portugueses, particularmente a faixa etária entre os 18 e 29 anos, atribuíram a este último aspecto a menor importância.

Estes dados evidenciam um distanciamento dos valores da democracia, defendidos por pensadores clássicos como Sócrates, Platão ou Aristóteles como essenciais para a formação íntegra do Homem. Sendo “democracia” um termo cuja etimologia (do grego demo + kracia, “governo do povo”) pressupõe por si mesmo a participação dos cidadãos. O que será então de uma democracia em que os jovens se tendem a afastar cada vez mais do seu papel de cidadãos activos? Como poderemos recuperar estes valores e integrá-los na formação dos jovens de hoje, homens e mulheres de amanhã?

As juventudes partidárias e a sua função na Sociedade

As juventudes partidárias parecem surgir como a alternativa mais eficiente no contacto directo e local com os jovens.

No entanto, o balanço não é, deveras, positivo. A intervenção das juventudes partidárias no ambiente juvenil é escassa e, na esmagadora maioria das vezes, inoportuna e imediatista. Os jovens que aspiram a políticos devem convencer-se, duma vez por todas, que as acções de marketing alimentadas fora e dentro do ambiente escolar não favorecem a sua própria postura aos olhos da classe juvenil e, muito menos, aos olhos da Sociedade.

Na verdade, o papel das juventudes partidárias chega a ser mais invisível que o das próprias forças partidárias. Quando as juventudes partidárias aparecem, em nome individual, em acções de rua, fazem-no quase que intimidadas pelo contacto com as populações. A tendência é reversível mas, actualmente, alimentam um modesto apoio às “casas-mãe”. A sua força e vitalidade é, portanto, mais visível internamente e subaproveitada no dia-a-dia.

Seria sugestivo que as juventudes partidárias repensassem o seu modelo de intervenção e participação numa Sociedade que apresenta graves lacunas sociais. Integrar o voluntariado na missão das juventudes partidárias é só uma das soluções que podem acreditar estes jovens políticos, cumprindo um dever para com a Sociedade e admitindo um aumento da sua capacidade interventiva.

Não se revela de somenos importância, o contacto das juventudes partidárias com a classe juvenil que tanto deprecia a política. Deve, todavia, ser um contacto duradouro e construtivo na medida em que proporcione a discussão de parte a parte de temas da Sociedade.

As juventudes partidárias não podem ser relativizadas nem tomadas, única e exclusivamente, como parte acessória das suas “casas-mãe”. Estes jovens políticos podem e devem cambiar os seus interesses para os problemas e desafios locais, numa tentativa de favorecer não apenas a discussão social, mas também a discussão política.

Ana Rodrigues

Carlos Raimundo

ESSL, Agosto de 2010

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