Importância do investimento em tempo de crise
Eu, enquanto estudante de Economia, sou um dos muitos que têm o privilégio de assistir a uma das piores crises económicas de todos os tempos - cada uma delas é sempre mais desafiadora que a anterior.
Um país pode optar por dormitar à espera que os efeitos da crise passem milagrosamente despercebidos, despertando perante um estado de caos socioeconómico, resultado de uma ineficácia na criação de mecanismos de defesa e de resistência à crise. Todavia, o país pode, e deve, assumir uma posição de combate à crise, nomeadamente através do investimento.
Num ambiente de forte especulação financeira e de incerteza quanto ao futuro económico, a falta de confiança no mercado e a insegurança no investimento, dominam o centro de discussão e debate desta crise. Em tempo de crise, as empresas concentram meios e mecanismos de forma a garantir os seus equilíbrios económico-financeiros, fazendo reduzir postos de trabalho e contribuindo, assim, para a sua amplificação.
Perante este quadro, as empresas diminuem, forçosamente, a sua capacidade de investimento, procurando no Estado apoios que lhes permitam garantir a solidez que precisam para se manterem no mercado. Desta forma, o Estado pode optar por fornecer esses apoios a pedido das empresas, nomeadamente ao nível da disponibilização de linhas de crédito. No entanto, o Estado não é portador de garantias que lhe permitam assegurar que os fundos fornecidos às empresas serão aplicados nas áreas mais estratégicas e com a eficácia económica necessária ao estímulo sustentado da Economia.
Assim sendo, na ausência de investimentos privados, cabe ao Estado, enquanto presumido conhecedor da realidade económica, assumir-se como centro de decisão, promovendo o investimento público como indicador de eficácia económica e de confiança no combate à crise.
O investimento público, através da insígnia das obras públicas, permite a criação de fluxos económicos e, portanto, permite um relacionamento constante entre os vários agentes económicos com esperados efeitos multiplicadores.
Sendo as obras públicas um investimento estatal e, por isso, suportado por todos os contribuintes do país, o Estado deve tomar particular atenção ao custo de oportunidade de cada um desses projectos, tendo como referência os benefícios que deixará de obter por rejeitar opções alternativas. Com o problema económico especialmente exacerbado durante uma crise, haverá sempre a necessidade de, com todo o rigor, calcular o custo de oportunidade e de garantir a racionalidade económica de um investimento público.
Quando o Estado não tem capacidade para auto-financiar os seus projectos, há a necessidade de recorrer ao financiamento externo, o que, em última análise, acabará por penalizar as empresas através do encarecimento do crédito. Por isso, é urgente que o país reúna, ao longo dos anos, condições de boa governação que lhe garantam, em situações como a que hoje vivenciamos, uma maior margem de auto-financiamento evitando, assim, o endividamento excessivo do país.
No caso português, a renovação do Parque Escolar surge-nos com várias ópticas favoráveis à sua concretização, nomeadamente ao nível da necessidade de travar a degradação e de modernizar as escolas públicas, como também ao nível de conceber projectos de referência do investimento público no contexto da actual crise económica.
Em discussão pública encontram-se, actualmente, grandes obras públicas de referência, como as linhas de alta velocidade e o novo Aeroporto de Lisboa. A estes projectos está, como anteriormente referi, subjacente o custo de oportunidade e a racionalidade económica, para além de outros factores de ordem política e social.
Em resumo, interessa captar a importância que o investimento em obras públicas tem para a dinâmica económica do mercado. No decorrer de uma crise, o importante é não dormitarmos porque, ao acordarmos, poderemos estar perante Economias completamente transformadas, preparadas para o futuro, enquanto nós nos dedicaremos a contar os mortos e curar os feridos que resultaram de uma estratégia de combate à crise falhada e pouco mobilizadora.
Carlos Raimundo, nº3, 11ºE
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