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PRAXES ACADÉMICAS

 

leis da praxe

 

Praxe: integração ou humilhação?

Eis a questão: prestes a iniciarem um novo rumo do seu percurso pessoal, os novos alunos do Ensino Superior, vulgarmente designados por “caloiros”, passam, talvez, pela mais marcante experiência da sua vida académica: a Praxe.

A Praxe e a cultura académica

Na gíria académica, e até mesmo já contemplada na convencional, a Praxe académica faz parte de um conjunto de usos e costumes que acompanharão os jovens que entram, pela primeira vez, nos círculos universitário e politécnico, ao longo de uma nova e digníssima fase da sua vida. Segundo os preceitos originais das praxes académicas, estas visam a integração, com maior ou menor alcance, dos novos alunos no meio académico e a promoção de valores como o espírito de grupo, união e de sacrifício e o respeito pela hierarquia vigente.

A cultura académica é, desde os seus tempos remotos, conservada e mantida pelas centenas de gerações estudantis que dela, ainda hoje, fazem parte. Merece, portanto, considerar que a Praxe não é apenas uma virtude da integração mas é, sobretudo, formada por marcantes e simbólicas cerimónias da vida universitária de alguém. Não é por acaso que a grande maioria dos académicos viram na Praxe um dos momentos culminantes e mais intensos das suas estadas académicas.

A ilimitação dos Ritos

Não obstante, começa a nascer uma tendência para menosprezar os valores da Praxe, especialmente os Ritos de Iniciação ou recepção ao “caloiro”. Contudo, parece haver, de facto, motivação para tal, apesar dos receios do debate. De há uns anos para cá, surgiram registos de manifestos abusos durante os Ritos de Iniciação. Tais abusos foram e, infelizmente, continuam a ser conduzidos por uma certa parte de “veteranos” ou “doutores”, aos quais abstenho qualquer adjectivação por nenhuma ser suficientemente merecida, que testam os limites dos “caloiros” até onde os seus próprios limites os levam. Curiosamente, e para desgosto da nata académica, são a partir destes hediondos actos de libertinagem e da própria clandestinidade remetida para os que deles recusam fazer parte, que nascem brechas e padrões de ruptura com a Praxe e, indissocialvelmente, com a própria tradição académica.

Pela consciência e própria democraticidade da cultura, a discussão destes abusos não pode ser vedada à Opinião Pública nem estes podem ser libertos de culpa, leviana e abusadoramente, pela seita académica como se tratassem de uma excepção à regra. Seria, portanto, pertinente a intervenção das próprias Organizações da Praxe em quaisquer situações de abuso, demarcando-se, legitimamente, do seu patrocínio e fazendo uso das ferramentas necessárias para pôr termo a esses abusos, sem temer a nobreza da doutrina académica.

Um manifesto aos excessos

Este não é, de todo, um manifesto à anti-Praxe. Este é, assumidamente, um manifesto contra qualquer tipo de abuso que promova a humilhação e violência de jovens que procuram, de forma genuína, integrar-se no mundo académico.

A Praxe é, desde sempre, um marco da vida académica e é, nos dias de hoje, regida por Códigos, ainda que alguns deles sejam redigidos de forma irreverente e nem sempre consensual. Hoje, impõe-se moderação, equilíbrio e, sempre que necessário, alguma mediação por parte das Organizações da Praxe e, se necessário, das Instituições do Ensino Superior, conservando e defendendo o respeito pelos valores académicos e pela venialidade da sua cultura.

Carlos Raimundo, nº5, 12ºE

Comentários

  1. Como sempre amigo fecha-se os olhos ! agora são as lágrimas do desespero. Não se lê ou ignora-se! infelizmente agora é tarde demais para devolver a vida aos jovens caíram nessa armadilha criminosa. Mas ainda estamos a tempo de evitar que situações idênticas se venham a repetir. Assim haja vontade e determinação para por termo a tais práticas, condenáveis que devem ser julgadas e punidas criminalmente com prisão efectiva. Bem haja pela sua coragem!

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