Avançar para o conteúdo principal

Conferência - Matemática: A Ciência da Natureza (FCG)

Mat

Informações

Uma enorme transformação no conceito de Natureza ocorre durante os séculos do Renascimento e dos Descobrimentos. As grandes navegações oceânicas tornam esta transformação impossível de esconder. A utilização intensiva de instrumentos, de tabelas, de mapas, bem como a circulação de pessoas, plantas e animais à escala do globo, criam a necessidade de se entender a forma nova que o mundo assume aos olhos maravilhados dos europeus. O século XVII, em que nasce a ciência moderna, consagra esta transformação. Galileu põe a terra em movimento; e o movimento está por toda a parte: não há estado de repouso no Universo. Mas, ao mesmo tempo, comete um “pecado” de consequências monumentais para o futuro – para legitimar o novo conceito de descoberta das leis naturais, Galileu identifica a Natureza com um livro tão sagrado como a Bíblia, porém escrito numa outra linguagem – a da matemática. Ora a matemática era desde os gregos indissociável da Natureza; era o próprio conhecimento rigoroso, não mitológico, da realidade, através da aritmética, da geometria, da música e da astronomia. Paradoxalmente, em poucas dezenas de anos, a matemática aparece apenas como um “instrumento” de compreensão da nova Natureza. A nova matemática (o cálculo) está separada da natureza, funcionando apenas como a sua linguagem. Um novo conhecimento das coisas naturais emerge, adoptando inclusivamente o nome latino de “scientia” para não se confundir com o antigo. A nova física (que surge como mecânica: o estudo do movimento e das forças) triunfa, acolhendo rapidamente os outros fenómenos naturais. Privada inadvertidamente do seu objecto, a matemática escolhe um caminho de progressiva abstracção como estratégia evolutiva, com grande sucesso, até aos dias de hoje. Foi preciso o Cubismo e a Mecânica Quântica para que a Natureza se voltasse a cobrir com os seus véus. Um século depois, percebemos que um conhecimento matemático novo será determinante para que o mundo que nos rodeia ganhe uma nova inteligibilidade. Nós também somos Natureza e esta percepção de base é fundamental para se equacionar a complexidade do nosso tempo. Entendeu por isso o Serviço de Ciência dedicar o ano de 2012 a pensar, de forma motivadora, nos novos caminhos abertos ou antevistos pela Matemática ao reassumir em plenitude o seu papel central de discurso sobre a Natureza.

João Caraça

Director do Serviço de Ciência da Fundação Calouste Gulbenkian

Fonte: http://www.gulbenkian.pt/index.php?object=160&article_id=3448&cal=eventos


Comentários

Mensagens populares deste blogue

COMO SE FAZ UM COMENTÁRIO A UM TEXTO

1- LER atentamente o texto: as vezes que forem necessárias até o compreender. Pelo menos duas vezes, mesmo que seja de fácil compreensão; 2- À medida que se lê o texto, devem APONTAR-SE os conceitos e palavras/vocábulos dos quais não conhecemos o significado; 3 - Depois de lido o texto (as vezes que forem necessárias), CONSULTAR UM DICIONÁRIO E/OU UMA ENCICLOPÉDIA , no sentido de encontrar as respostas a todas as palavras e expressões que dificultavam a compreensão daquele; 4 - IDENTIFICAR se é um texto autónomo e independente ou se é um excerto de um texto (um texto completo ou parte de... ); 5 - IDENTIFICAR o género literário a que o texto corresponde (se é prosa, se é poesia, que tipo de poesia, etc... ); 6 - INDICAR o tema do texto, ou seja, a ideia fundamental do mesmo; 7 - Para a compreensão de um texto é, muitas vezes, necessário DIVIDI-LO em partes; 8- Se se tratar de um texto de opinião e for exigido um COMENTÁRIO CRÍTICO do texto, é necessário contra-argumentar e

ARREDORES

ARREDORES «Domingo irei para as hortas na pessoa dos outros» Álvaro de Campos No tempo em que havia quintas e hortas em Lisboa, e se ia para lá aos domingos, eu ficava em casa. E em vez de ir para as quintas e para as hortas, em vez de apanhar couves e de ordenhar ovelhas, lia poemas que falavam das quintas e das hortas de Lisboa, como se isso substituísse o ar do campo e o cheiro dos estábulos. É por isso que hoje, quando me lembro dos arredores de Lisboa onde havia quintas e hortas, o que lembro são as horas de leitura de poemas sobre esses arredores, e os passeios que eles me faziam dar aos domingos, substituindo os lugares reais com mais exactidão do que se eu tivesse ido a esses lugares. Visitei, assim, quintas e hortas pela mão do Cesário Verde e do Álvaro de Campos, e soube por eles tudo o que precisava de saber sobre os arredores de Lisboa, que hoje já não existem porque Lisboa entrou por eles e transformou as quintas em prédios e as ovelhas em automóvei

ROTEIRO QUEIROSIANO – SINTRA – 12/04/2010, 11ºB, I

LEITURA DO CAPÍTULO VIII DE OS MAIAS DE EÇA DE QUEIRÓS, EM SINTRA "O quê! o maestro não conhecia Sintra?... Então era necessário ficarem lá, fazer as peregrinações clássicas, subir à Pena, ir beber água à Fonte dos Amores, barquejar na várzea... (…) Carlos, no entanto, pensava no motivo que o trazia a Sintra. E realmente não sabia bem porque vinha: mas havia duas semanas que ele não avistava certa figura que tinha um passo de deusa pisando a terra, e que não encontrava o negro profundo de dois olhos que se tinham fixado nos seus: agora supunha que ela estava em Sintra, corria a Sintra. Não esperava nada, não desejava nada. Não sabia se a veria, talvez ela tivesse já partido. Mas vinha: e era já delicioso o pensar nela assim por aquela estrada fora, penetrar, com essa doçura no coração, sob as belas árvores de Sintra... (…) - A Lawrence onde é? Na serra? - perguntou ele com a ideia repentina de ficar ali um mês naquele paraíso. - Nós não vamos para a