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Sabemos muito pouco de Camões


Sabemos muito pouco de Camões,
Mal sabemos quem foram os seus pais,
Quanto ao seu nascimento há discussões,
Dos seus estudos não se sabe mais.
Passou dezassete anos aos baldões
Na Índia e em paragens orientais.
Fazia belos versos muitas vezes.
N’Os Lusíadas canta os Portugueses.

 

Quando voltou a Portugal, saiu
O seu livro. Camões era tão pobre
Que não se sabe como o conseguiu.
Talvez tivesse a ajuda de algum nobre
E ajuda com certeza ele pediu.
Enfim, o livro sai e se descobre
Que aquele altivo português de gema
Pusera a nossa História num poema.
 

Esse poema chama-se epopeia
Que era uma forma usada antigamente
Em que um herói levando a vida cheia
De combates terríveis segue em frente
E acaba vencedor, porque guerreia
Em nome do seu povo e é tão valente
Que em coragem e força é sobre-humano.
O povo aqui é o peito lusitano.
 

Para o fazer, Camões usou a oitava
Que é feita de oito versos a rimar.
Até ao sexto as rimas alternava,
Nos dois finais a rima vai a par.
Com oitavas assim, organizava
Essa história que tinha de contar
Em cantos que são dez e a nós, ao lê-los,
Espanta como pôde ele escrevê-los.

 

A Dom Sebastião, que assim se chama
O jovem rei de Portugal, oferece
O seu poema e lhe promete a fama
Que a nossa terra junto ao mar merece.
Diz como navegou Vasco da Gama
Mas conta a nossa História, não se esquece

Do que antes sucedeu, nem dos perigos
Que o mar nos fez correr, mais que aos antigos.

 

Vasco Graça Moura in Os Lusíadas para gente nova, pp. 11-12 [fonte: Gradiva]

 

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