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Discurso de Abertura–Debate com os Deputados

Discurso de abertura

Bom dia. Gostaria de começar por agradecer a presença e a disponibilidade de todos para estarem aqui hoje.

Estamos aqui para debater um tema que nos diz muito. "Desertificação e Empobrecimento no interior - Como combater?". Sendo que pertencemos a uma das populações mais afetadas por estes problemas no nosso país, quem melhor do que nós próprios para dizer aos nossos governantes e representantes nos órgãos políticos de dimensão nacional como nos sentimos e o que se passa na nossa cidade, no nosso distrito, na nossa região? Por esse motivo, contamos hoje com a presença de seis deputados da Assembleia da República, representantes de cada um dos partidos com assento parlamentar, que estarão ao nosso dispor para nos ouvir, para que os possamos questionar, para que possam debater connosco a indiscutível crise demográfica que Portugal enfrenta. Passo então a apresentar os deputados aqui presentes para quem peço um enorme aplauso.

PSD - Cristóvão Crespo

CDS/PP - João Viegas

PS - Bruno Tavares

PCP - João Oliveira

BE - Nelson Peralta

PEV - Heloísa Apolónia

Caríssimos deputados, excelentíssima presidente da câmara, caros professores, caros colegas,

O meu nome é Guilherme Vilhais e coube-me a mim fazer o discurso de abertura desta sessão. Cabe-me a mim introduzir o tema que vamos discutir esta manhã.

Para quem não sabe, este tema é o tema deste ano do projeto Parlamento dos Jovens que decerto alguns de vós já ouviram pelo menos falar. Este é o meu quinto ano envolvido no Parlamento dos Jovens. Quatro sessões distritais e uma sessão nacional em que tive o prazer de ser presidente da mesa. Durante estes 5 anos, foram muitas as vezes em que vi círculos ou escolas a sugerirem que este tema fosse o tema deste projeto no ano seguinte. A esmagadora maioria destas sugestões vinham do interior. Como se estivéssemos a pedir ajuda, a tentar dizer aos senhores que mandam no nosso país que alguma coisa tem que ser feita. Que o interior enfrenta graves problemas. Mas ano após ano, saía o tema e nunca era relacionado com o desfasamento social e demográfico. Parecia que nos estavam a ignorar. Que se recusavam a ver que há aqui um problema. Até este ano. Quando vi qual era o tema deste ano, a palavra que me veio à cabeça foi "finalmente". Finalmente vamos poder lutar pela nossa região. Finalmente vou poder falar de uma coisa que sei. Finalmente acho um tema interessante. Finalmente fomos ouvidos.

                A nossa população é escassa e envelhecida e como consequência disso têm-nos sido tirados serviços e regalias. Temos visto cair promessas que nos foram feitas. Promessas que visavam melhorar e desenvolver estas regiões do nosso país, mas que nunca passaram disso mesmo, míseras promessas.

Lembro-me perfeitamente do dia em que fui presidente da sessão nacional do Parlamento dos Jovens e em que no encerramento tive direito a uns breves minutos para discursar, para dizer ao país aquilo que achava que devia ser dito. Não pude obviamente deixar de referir a situação que todos nós vivemos. Disse a todas as pessoas naquela sala que o interior do país estava a morrer, que não queríamos nem mais nem menos do que o litoral. Pedi para não se esquecerem de nós. Acredito que o facto de este tema ter chegado a tema do Parlamento dos Jovens é um grande passo nesta direção. Se calhar não se esqueceram de nós.

Lembro-me de no fim da sessão, pessoas de Lisboa e de outras grandes cidades me dizerem que não faziam ideia que nós enfrentávamos este tipo de problemas. Que não estava certo. Pois não, não está certo que assim seja, mas infelizmente o poder de tomada de decisão está nas mãos dos grandes círculos. Que poder têm os nossos dois deputados na assembleia da República contra os 47 de Lisboa? Que poder têm os 119.000 habitantes do nosso distrito contra os 2 milhões e 245 mil de Lisboa? Somos uma minoria, mas isso não quer dizer que tenhamos menos direitos. Claro é que a assembleia da república acaba por tomar decisões que privilegiam constantemente os círculos mais populosos por não se preocuparem com o que se passa aqui.

Mas há pessoas a viver nestas terras, por isso apelo-vos que parem de tomar decisões que atentam contra o pouco que resta deste e de tantos outros distritos do interior do nosso país. Infelizmente, também nunca tivemos alguém que tenha nascido aqui no poder, porque não sei como nem porquê, as cidades das pessoas poderosas são extremamente desenvolvidas durante o tempo em que essas pessoas estão no poder.

Quando eu digo que sou de Portalegre a pessoas do resto do país, a resposta que mais oiço é: "Onde é que isso fica?". Eu depois explico que somos uma cidade, aliás capital de distrito que fica no Alentejo. Depois perguntam-me se aqui há luz e eletricidade. Se eu vou à escola ou ajudo os meus pais na quinta. Se ando a pé ou de carroça. Se não passo os dias à sombra de um sobreiro. Eu pergunto-me depois até onde vai a ignorância das pessoas das grandes cidades. A situação não é assim tão má quanto eles a pintam, mas o facto de eles nem saberem qual é o estado de regiões do país em que vivem é deveras preocupante. Eles não se importam. Têm redes de transportes desenvolvidas, centros comerciais até dizer chega. Para quê perder tempo da preciosa vida deles a pensar naqueles que não têm nada disso? Naqueles onde o comércio está às moscas, onde as redes ferroviárias não chegam, naqueles que têm que fazer 100 km para ir ao Mc Donalds ou ao centro comercial em condições mais próximo, naqueles que dia após dia veem lojas fechar, serviços transferidos para outras cidades, naqueles que não têm um cinema que apresente os filmes na altura que estreiam no resto do país. É uma realidade triste, mas sentimo-nos discriminados. Há bairros de Lisboa com mais escolas secundárias do que toda esta cidade onde nos encontramos.

Ano após ano, as pessoas a viverem aqui são menos. Os postos de trabalho extinguem-se. Os jovens vão estudar para fora, procurar emprego fora, os idosos que já são mais do que os jovens vão morrendo, as crianças que nascem são cada vez menos e Portalegre vai morrendo. O fosso entre as gerações é cada vez maior. Acham que eu tenho vontade de descontar para a segurança social sabendo que quando chegar a minha vez de me reformar o sistema já colapsou? O fosso entre o nosso estilo de vida e o do litoral é cada vez maior. Portugal é cada vez mais um país desequilibrado. Talvez um dia esta cidade feche de vez. Talvez um dia tudo o que se encontre onde outrora foi uma cidade seja um cartaz a dizer: Aqui era Portalegre. Talvez aí estejam satisfeitos. Talvez aí percebam que os euros que pouparam quando nos tiraram os serviços não compensavam o dano que estavam a causar. Talvez aí percebam que aquilo que deviam ter feito era investir em nós. Era trazer mais gente para cá, criar apoios, facilitar as coisas, fazer com que as pessoas preferissem vir viver para cá em vez de irem todas para um litoral já sobrepopulado. Mas se calhar quando perceberem isso já vai ser tarde de mais. Eu espero sinceramente que não seja. Pelo bem das pessoas que aqui vivem, pelo bem do potencial que esta região tem.

Nós vamos tentando fazer o melhor que podemos para dinamizar esta cidade com os poucos recursos que temos, mas precisamos da vossa ajuda. Precisamos de toda a ajuda possível. Precisamos que estejam do nosso lado. Precisamos que os governantes queiram jogar connosco e não contra nós. Precisamos de ser uma equipa unida. Precisamos que todos vocês que não se preocupam, se comecem a preocupar.

Acho que não tenho mais nada a dizer. Se calhar não disse aquilo que queriam ouvir, mas acho que disse o que precisavam de ouvir. Sinto que fiz a minha parte. Agora cabe-vos a vocês espalharem esta mensagem. Fazerem propostas. Falarem do que se passa aqui nas vossas comissões parlamentares. Quem melhor do que vocês para fazê-lo, não é? Espero ter feito a diferença. Espero ter feito bem aquilo que me pediram para fazer. Muito obrigado. 

 

Guilherme Vilhais

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