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COMENTÁRIO À OBRA DE MANUEL ALEGRE, PRAIA DE LÁGRIMAS

Nesta obra de Manuel Alegre, o autor descreve um dos momentos mais solenes e tristes da história recente do nosso país, a partida dos soldados Portugueses para as províncias ultramarinas. Esta partida insere-se numa época conturbada da nossa história, o Estado Novo.
Durante este período, por volta dos anos 60 até 1974, rebentou em Angola, Guiné e Moçambique, a guerra colonial, devendo-se a uma revolta da população local para suprimir a falta de liberdade.
Manuel Alegre, neste texto, compara este momento ao da partida das primeiras naus no séc. XV em busca dos novos mundos (época dos Descobrimentos). O autor compara essa angústia das mães, dos pais e das mulheres dos soldados que partem para a guerra, à aflição sentida séculos antes pelas mães, esposas, filhos e familiares na partida dos marinheiros Portugueses em busca do desconhecido, sem se saber se haveria regresso, devido aos perigos do oceano. Agora, estes soldados estão sujeitos aos mesmos perigos. O autor faz referência a Os Lusíadas neste excerto, uma vez que invoca as palavras sábias do “Velho do Restelo”, figura mítica de Os Lusíadas, que regressa para questionar os motivos destes soldados em investirem a sua juventude naquela guerra que, para alguns, traria a morte e desventura e não a glória, a fama como eles pensavam, chamavam-lhe coragem alguns, mas para o velho não passava de loucura. A figura do velho demonstra também que, por muito que o tempo passe, as palavras são as mesmas, os tempos estão sempre actualizados.
N’Os Lusíadas, o autor descreve a viagem dos Portugueses “por mares nunca de dantes navegados”, narra também as suas aventuras e pretende mitificar os Portugueses pela sua coragem, bravura e curiosidade ao enfrentarem perigos desconhecidos por eles. Manuel Alegre, com este texto, pretende não mitificar os Portugueses, mas sim criticar e descrever aquele momento triste da partida dos soldados Portugueses para o Ultramar, não para a glória, como os Portugueses de Vasco da Gama, mas sim para a desgraça, para a inglória daquela guerra, que oprimia um povo, retirando-lhe a liberdade e destruindo uma geração de Portugueses, “ ó glória de mandar, ó vã cobiça”.

José Andrade, 12
ºB

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